O documentário “Consciência Negra” abordou a temática dos negros em São João del-rei, sua história, cultura e influência na cidade.
Despedindo-se das atividades do ano de 2018, o projeto de extensão “URBE - Olhares sobre São João”, da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ) realizou, no dia 06 de dezembro, o lançamento de seu nono programa. No Centro Cultural da UFSJ foi exibido o documentário “Consciência Negra”, que aborda a história e influência dos africanos e seus descendentes na construção cultural, social e religiosa da cidade. O evento contou com a presença dos integrantes do projeto e alguns dos entrevistados que, junto do público presente, se emocionaram ao se ver na tela.
Documentário: Consciência Negra
São João del-Rei, como polo da mineração no período colonial, recebeu muitos escravos oriundos do continente africano. Os africanos trazidos para cá, e seus descendentes, possuem uma grande participação na cultura local, que muitas vezes é negligenciada e marginalizada. Desde a proibição de realizar seus cultos próprios, até a exclusão da população negra em locais específicos, vários fatores colaboraram para que houvesse uma segregação étnica, que reverbera na sociedade até hoje.
O objetivo deste programa é resgatar esta história, dar voz aqueles que foram excluídos e trazer para o público sua rica cultura, além de demonstrar a importância de sua presença na construção sócio cultural da região. Foram entrevistados importantes personagens deste meio, como a historiadora Simone Assis, o frei João José de Jesus, o congadeiro Lutero Castorino, a fundadora do grupo Raízes da Terra Vicentina Neves e a aposentada Maria Carmen de Siqueira que foi presidente da orquestra Lira Sanjoanense. Maria Carmen ressaltou a importância do documentário e do URBE para a memória da cidade: “É interessante pois um são-joanense que não conhece nossas histórias, pode, através deste projeto e sua pesquisa, acessar o Youtube em qualquer lugar onde estiver e ficar ciente de nosso passado”.
Na construção dos episódios apresentados pelo projeto, estão envolvidos alunos voluntários, que se dedicam a entrevistar, filmar e produzir os programas. Emerson William Souza de Jesus participa desde o primeiro semestre de 2018 e considera o projeto de grande importância, pois tem interesse em seguir o ramo televisivo e dos documentários. “Eu gosto do que eu faço no URBE, que é a função da reportagem. É o meu primeiro contato com esta realidade e este ramo, antes de ir para o mercado de trabalho” afirmou Emerson.
O estudante se interessou por este episódio ao saber qual o tema que seria abordado. “Quando veio a ideia deste projeto, de falar da questão do negro na sociedade são-joanense eu decidi participar. Principalmente porque sou negro e tenho muita afinidade com a pauta racial. Faço o que posso para que a esta pauta seja discutida, pois acho muito importante que a comunidade, principalmente a acadêmica, debata estas questões, que ainda são muito desprezadas. Há ainda a questão da discriminação racial, o racismo institucionalizado e o racismo explícito. A cultura negra deve ser mostrada e exposta para que esse racismo acabe”.
A bolsista Camila Sottani destacou a importância dos temas abordados durante o ano, o córrego do Lenheiro, a linguagem dos sinos e a consciência negra, como de grande relevância, contribuindo com a ideia de relatar a cidade. “Sabemos que a cidade é rica e linda, mas e aqueles elementos que não são contados? Quem fez isso tudo, porque as igrejas são tão bonitas? Há toda uma história por trás disso” disse a estudante de comunicação da UFSJ. Sobre o episódio apresentado, Camila afirmou: “tivemos três entrevistadas presentes, o que nos deixou muito feliz, pois ao final elas disseram que gostaram muito. Isso é muito gratificante para nós”.
URBE
Completando três anos de existência em 2018, o projeto de extensão URBE, procura trabalhar com a valorização da cidade, de instituições, pessoas, lugares e culturas que são pouco mostradas pela mídia tradicional. Segundo Francisco Brinatti, professor do curso de Comunicação Social da UFSJ, no ano de 2018 o URBE conseguiu trazer questões relevantes para discutir a sociedade são-joanense, valorizando fatos, instituições e pessoas da cidade que às vezes não estão dentro do olhar da história tradicional e da mídia tradicional.
Francisco Brinatti ressaltou a importância do projeto na formação dos estudantes, sejam bolsistas ou voluntários, e elogiou o trabalho da equipe. “Não é fácil produzir um audiovisual de mais de 15 minutos, buscando relevância. Cumprimos com o que foi colocado ao longo desses 12 meses. A ideia agora é tentar deixar esse material como acervo de memória, para que as pessoas também vejam o outro lado desta história”, afirmou. O projeto deve dar uma pausa pois o professor irá seguir para o pós doutorado no ano que vem. A ideia é que se mantenham algumas discussões sobre o tema do imaginário urbano, porém os episódios não serão produzidos.
Para quem quiser acompanhar as ações do projeto é só acessar sua página no Facebook. Os episódios realizados até agora também estão disponíveis na internet, basta acessar o Youtube do URBE para assisti-los. As fotos do evento estão disponíveis no Flickr do Comunica Extensão UFSJ.
Texto: Camille Gallo e Rafael Nascimento
Foto: Rafael Nascimento
Publicado em:12/12/2018
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